27 de janeiro de 2015

642 coisas sobre as quais escrever: #292 Triângulo das Bermudas

"Diário de viagem,
creio que estejamos no 42º dia, embora tenha perdido a noção da passagem do tempo há muito. Quando zarpei da costa catarinense, eufórica por finalmente todos meus anos de trabalho terem sido recompensados e eu finalmente estar conseguindo realizar um dos maiores sonhos da minha vida, nunca imaginei o rumo que essa viagem tomaria. 
Me lembro de um dia na faculdade, quando um dos meus amigos tinha dito que seu sonho era construir um barco para viajar o mundo. Será que ele estaria orgulhoso ao me ver, tão imponente com o vento do mar no rosto? 
A tempestade nos pegou no 36º dia. O mar do caribe parecia surreal, e aquelas nuvens eram ainda mais. Não tenho ideia de como foi possível nos arrastar por tantos quilômetros, porque tenho a impressão de que estamos completamente longe de tudo. 
Na verdade não sinto que continuo no mesmo planeta, ou na mesma época em que estava antes. Tudo aqui é envolto em brumas, o ar é inebriante, é tudo bonito e aterrorizante. O sol que brilha velado não parece ser o mesmo que nos aquecia no inverno e nos irritava no verão. Não chove, não há estrelas, apenas um brilho fantasmagórico que difere um pouco apenas do tom dourado do que eu acredito ser o dia. 
Estamos sozinhos, apesar de sentirmos sempre presenças estranhas, principalmente durante nossas horas de sono, que acabaram por se tonar longas demais. Sei que há animais na água, vejo criaturas bioluminescentes, minúsculas. Também sinto a água ser perturbada por seres enormes e calmos, que parecem ter saído de um catálogo de animais há muito extintos. 
Sinto que aqui eu serei para sempre jovem, meu corpo não envelhecerá, meus sentimentos não morrerão. Mas tenho a noção de que nossa água e comida são finitos, a morte acabará por vir, de forma dolorosa e assustadora, a não ser que estejamos sendo alimentados de alguma forma estranha, apenas com energia, já que não temos sentido muitas necessidades comuns, como fome e sede. 
Talvez já estejamos mortos, ao menos para o mundo lá fora, se é que há algo lá fora. Às vezes tenho a impressão de ver vultos de barcos e navios, alguns antigos, outros modernos, alguns de formas que eu nunca imaginei serem possíveis. Eles passam no horizonte, fantasmagóricos, tristes, tanto que tenho a impressão de que logo começarão a tocar uma música fúnebre, ou alguém soltará um triste grito de angústia. 
Mas tudo aqui é silêncio. Um viciante, belo e enlouquecedor silêncio."

Gente, eu achei que ia conseguir fazer esse projeto toda semana. Como sou ingênua. Mas de qualquer forma aqui estamos com mais um "642 coisas". Eu simplesmente amei esse tema (tudo a ver comigo), que pedia pra escrever sobre uma viagem inesperada ao Triângulo das Bermudas, e foi muito gostoso escrever. Fluiu bem melhor do que o primeiro texto, mas ficou meio mórbido, né? 
Mesmo assim amei. 
Tomara que o próximo também seja tão animador. <3 

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