23 de outubro de 2014

O restaurante universitário



Acordar, comer, ir trabalhar. Trânsito. Comer, estudar, estudar, estudar. Exercitar, tentar estudar e não conseguir, comer, dormir.
Não sei quanto tempo faz que estou presa nessa roda de camundongo, correndo, correndo, correndo e não chegando a lugar nenhum.
Não consigo mais me imaginar no mundo, não consigo mais olhar pros lados. Todas as pessoas que eu vejo durante o dia me causam amargor na boca.
Esse amargor. Esse negativismo. Passo tempo demais imaginando como conseguiria me livrar de tudo isso, de toda essa gente, essa rotina sem sentido. Nem sequer consigo ouvir vozes na minha cabeça, não consigo alucinar, sou antissocial demais para isso.
Desenvolvi um senso absurdo de julgamento. Cada pessoa por quem eu passo tem seu destino todo traçado em minha cabeça, eu sei o que ela quer, pra onde ela vai. Sei da sua felicidade superficial, do seu desejo por aquela menina bonita do segundo ano.
Mas eu não sei pra onde vou, por onde vou.
A vida nunca foi tão certa e incerta ao mesmo tempo. Sou autossuficiente, tenho alguém pra amar, tenho uma boa família, tenho alguns amigos e amor próprio, isso não é problema.
Mas estou mentindo pra mim mesma. O problema não está nos sentimentos, não está na solidão. O problema está em mim e no nojo que eu sinto das coisas e das pessoas que me cercam no maldito dia-a-dia, está no desânimo que sinto quando deveria estar estudando e me dedicando ao meu futuro. Me sinto trancada, em casa, na faculdade, no trabalho. Quero sair, quero ver o verde das árvores, quero sentir o vento no meu rosto e quero fotografar cachorrinhos e estrelas. Quero levar meu namorado pra descobrir coisas bonitas comigo, quero sair para fazer compras com as minhas amigas.
Mas quando eu entro no restaurante da universidade e vejo todas aquelas pessoas que parecem muito realizadas com seus grupos de amigos e suas reclamações mundanas eu só sinto vontade de voltar para a prisão da minha casa, meu quarto, minha cela, a cela mais aconchegante e bonita que eu poderia desejar. Porque se eu não voltar praquela cela, sabe-se lá aonde meu ódio vai me levar.
Queria poder levar todas as pessoas que amo praquela cela e abrir a janela, e apagar todas as luzes da cidade, assim poderíamos procurar discos voadores juntos.
Ou quem sabe me mudar pra um lugar só meu, no meio do nada, onde a droga do diploma universitário não faria falta e eu pudesse viver do jeito que quisesse e me dedicar a todas as milhares de coisas diferentes que me interessam, e onde eu pudesse receber qualquer amigo e qualquer membro da família.
Eu nem mesmo sei o que há de errado comigo, talvez nada.

Nesse momento eu só queria duas coisas: conseguir me concentrar nos estudos, e umas férias bem longas no colo da minha mãe. 

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